navegando pela web encontrei o seguinte texto abaixo escrito pelo prof. Dr. Jacques Philippe Sauvé do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação da Universidade Federal de Campina Grande, e resolvi compartilhar com vocês. Uma breve leitura que, com pequenas adequações, uma vez que são áreas, universidade e programas diferentes dos nossos, também conseguimos incorporar em nossos direitos e deveres juntos de nossos orientadores e programas de pós-graduação.
Além disso, as dicas para escrever são muito bem aplicáveis em nossos trabalhos. Espero que consigam aproveitar a leitura.
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Dicas para os Alunos de
Mestrado do Prof. Jacques
Meus caros alunos,
Vocês estão prestes a investir uma parcela
significativa de suas vidas no Curso de Mestrado em Informática da UFCG sob
minha orientação. Acho prudente, para todos os envolvidos, discutirmos alguns
assuntos relacionados com esse seu (nosso!) investimento para tentarmos,
juntos, chegar a um modus operandi aceitável e fazer de sua
estada aqui uma experiência enriquecedora, porém rápida. Não é que
eu queira expulsá-los antes do início das atividades! Mas vocês concordarão
certamente que terminar o mestrado num curto espaço de tempo será benéfico para
ambos os lados. Adoro ver um aluno terminar uma dissertação e
ir embora (eu gosto da parte "terminar", não "ir embora",
mas a segunda vem com a primeira).
Vamos portanto iniciar a discussão com um
monólogo meu (abaixo), esperando que se transforme num diálogo o mais
brevemente possível. Minhas alunas desculparão o uso do masculino no que segue.
Não tenho saco para falar de alunos(as).
O que é o Mestrado?
Antes de iniciar seu empreendimento aqui, que
tal definirmos o alvo? Onde queremos chegar? Quando saberemos que você
terminou? Tem duas respostas para isso. A princípio, você pode pensar que você
terá terminado quando você defender sua dissertação. Eu vejo a coisa por um
ângulo um pouco diferente. Como orientador, meu papel é de ajudar a transformar
você num mestre. A defesa da dissertação é apenas um formalismo
(importante) para comprovar o fato para a comunidade científica. Infelizmente,
ocorre, mais freqüentemente do que seria desejável, um aluno defender uma
dissertação de mestrado e receber o diploma sem ser mestre. Ocorre
também o contrário: um aluno já ser mestre quando inicia o programa de
mestrado, mas não tendo o diploma para comprovar o fato.
Por que falo disso? Em primeiro lugar porque
quero passar minha idéia sobre o que é um mestre: é alguém que consegue
resolver problemas não triviais sozinho, buscando e avaliando
caminhos promissores, e produzindo um resultado que possa sofrer o olhar
crítico dos especialistas. Visto desse ângulo, acho que entenderão o parágrafo
anterior.
Em segundo lugar, abordo este assunto porque meu
papel é de ajudar a transformá-lo num mestre. Quando eu estiver convencido do
fato, deixarei você defender a dissertação. Meu papel não é de maximizar o
número de dissertações defendidas mas de maximizar o número de mestres
formados. Não quero com esta afirmação assustá-lo ou criar confronto. Muito
pelo contrário. Empenhar-me-ei para sempre termos um bom relacionamento. Quero,
entretanto, deixar as regras do jogo claras. Aliás, o propósito deste monólogo
é isso: deixar as "regras" claras! Tudo bem?
Seu papel
Falei acima de transformação em mestre.
Lembre que quem vai efetuar essa transformação é você, não eu.
Sou apenas um orientador, não o Espírito Santo. O esforço é seu.
Aqui vai uma lista do que considero seu papel,
como aluno. Pense nos itens à luz do que falei até agora.
· Seja franco. Se tem um pepino, venha conversar. Também serei franco. É uma
boa forma de encurtar o tempo total empregado no trabalho.
· Chegue preparado para as discussões. Se você não está preparado, faça seu
trabalho de casa primeiro e venha conversar. Isso não quer dizer que você deve
tirar todas suas dúvidas sozinho. Estou aqui para tirar
dúvidas. É uma questão de medida. Não tenha medo de falar comigo, mas tente ser
um mestre primeiro: o objetivo todo é esse. Então fuce soluções possíveis,
papers, referências e não desista na primeira leitura. Você não pode exigir do
seu orientador que ele faça seu trabalho (ele já é mestre,
presumivelmente...). Você faz. Ele pode orientar e ajudar.
· Aprenda a usar a danada da crase! Ler coisas suas cheias de erros de
português me deixa de mau humor e você não quer isso, não é ... ? Um errinho
aqui acolá se perdoa, ninguém é perfeito.
· Saiba ler inglês perfeitamente. Na informática, não tem outro jeito. Ponto
final.
· Siga o cronograma estabelecido. Você é quem mais vai ganhar com isso. Seu
cronograma de trabalho será sempre negociado entre nós, nunca
imposto por mim. Posso fazer uma pressãozinha mas nunca aceite um cronograma
que você não ache factível. Uma vez negociado o cronograma, cumpra-o. Se você
ver que não vai cumprir e sua consciência estiver limpa quanto ao esforço
desprendido, venha rediscutir o cronograma. Às vezes a gente erra mesmo.
· Me avise se você se ausentar mais do que alguns
dias. Basta um mail. Se
sumir um ou dois dias, não preciso saber. Se você se ausentar um mês,
certamente quero saber.
· Apareça às reuniões acertadas. Respeite meu tempo. Respeito o seu. Se
você não puder aparecer, não tem problema: me avise antes e vamos remarcar.
· Apresente seminários públicos periódicos sobre
seu trabalho. Pelo
menos um a cada 3-4 meses. Isso ajuda a manter as coisas sob controle e ajuda a
transformar outras pessoas (os ouvintes) em mestres melhores.
· Assista os seminários dos outros alunos. Vamos transformá-lo num mestre, certo?
Assistir a seminários da área de redes é obrigatório. Seminários de outras
áreas podem ser altamente interessantes também. Abra seus horizontes ... Não
quero que você seja mestre no assunto de sua dissertação apenas. Aliás, isso
furaria a definição de mestre dada acima!
· Escreva e publique pelo menos 1 artigo antes de
sumir. Isso é para a gente
se manter honesta. Também é bom para nossos CVs ...
· Fazer trabalhos adicionais (não relacionados com
sua dissertação). Não
devo exagerar nisso mas estarei pedindo alguns trabalhos adicionais (apostilas,
seminários, home pages, etc.). Se você achar que estou exagerando, siga o
primeiro item acima.
Meu papel
Depois de falar de suas obrigações, vamos falar
dos seus direitos, que tal? Você tem todo direito de exigir:
· Que eu discuta seu trabalho (ou outros assuntos)
com você. Não posso ser ausente.
· Que eu leia o que você escreve. Devo ler e retornar feedback prontamente.
Pode encher meu saco se eu farrapar. Isso é uma via de duas mãos e não teremos
confronto se você me criticar honestamente (primeiro na minha cara, né, gente!)
· Que eu acompanhe seu trabalho periodicamente. Nosso cronograma estabelecerá pontos de
sincronismo e acompanhamento. Mais ou menos a cada 15 dias (pode ser mais
freqüentemente; eu não gostaria que fosse menos, salvo por força maior já que
viajo um bocado pela COPEX).
· Que eu indique caminhos. Orientar é isso. Nunca vou deixar você
entrar numa floresta desconhecida sem avisar (há muitas florestas que não
conheço!).
· Que eu assegure seu assunto de dissertação. Isso significa que você tem direito de
exigir uma resposta clara e bem fundamentada quando você perguntar:
"Professor, se eu fizer isso que estamos propondo e fizer com qualidade,
dá uma dissertação?" Em outras palavras, assumimos em conjunto.
Isso não significa que eu escolho o assunto de dissertação.
Você pode sugerir um assunto. Normalmente, deverei ter vários assuntos para
você escolher. Todos dão uma dissertação. Eu garanto.
Acompanhamento e Avaliação
É importante que você entenda que eu
pessoalmente tenho um compromisso com a COPIN de avaliar o andamento do seu
trabalho e reportar qualquer problema. Isso é importante porque você estará
utilizando recursos da COPIN, do DSC e da UFCG. Estará também talvez utilizando
recursos adicionais, principalmente bolsas de estudos. Se seu trabalho não for
satisfatório, recomendarei o corte da bolsa e deixarei de ser seu orientador.
Mas uma vez, não quero que você se assuste com minhas palavras. Só quero deixar
claras as regras do jogo. Todos nós nos beneficiaremos com essa clareza.
Seu assunto de dissertação deverá normalmente
ser escolhido no primeiro mês após seu ingresso no programa de mestrado.
Definiremos um cronograma de trabalho, conforme mencionado acima e este
cronograma indicará alguns eventos de acompanhamento (seminários). Outras
reuniões serão agendadas periodicamente, aproximadamente a cada 15 dias, ou
mais freqüentemente. O importante é que haverá um acompanhamento
periódico do seu trabalho, seja por mim, seja pela comunidade, para
cumprirmos nosso compromisso junto à COPIN e outros órgãos cujos recursos
utilizamos.
Sua proposta de dissertação deverá estar pronta,
no máximo, 6 meses após seu ingresso. Cada caso é diferente e a maioria dos
meus alunos aprontará a proposta bem antes. As dissertações são medidas para
que seja factível terminá-las em aproximadamente 1 ano e meio. Circunstâncias
diversas (mas apenas em situações especiais), o trabalho poderá consumir até 2
anos. Não mais. É meu sincero desejo que vocênão seja um caso
especial e que você defenda em 1 ano e meio. Vamos trabalhar para isso juntos?
Dicas para escrever
Em vários pontos do seu trabalho, você deverá
escrever monografias. A monografia principal é, claro, sua monografia de
dissertação. Tenho tido dificuldades no passado com a qualidade dos trabalhos escritos
dos alunos. As maiores dificuldades são de organização e, em
seguida, de construção de frases, erros de grafia, etc. Para verificar a
construção de frases e erros de grafia, conto com você e seus colegas que
poderão ajudar se você julgar que não escreve bem. Não quero receber material
mal escrito.
Já, a questão de organização ou estrutura do
trabalho é outro assunto onde algumas dicas poderão ser úteis. Não podemos
errar aqui porque consertar um trabalho mal estruturado é muito difícil (tem
que ser reescrito). Consertar frases ou erros de grafia é um trabalho
localizado (não feito por mim!) que não implica uma reescrita total.
Dou algumas dicas básicas para escrever um
trabalho bem estruturado. Não é a única forma de escrever, mas tem funcionado
bem para mim.
· Escrita top-down. Aprendemos a organizar software top-down e
essa técnica funciona muito bem para escrever. Quando chegar o
momento de escrever algo para me entregar, vou pedir uma versão de uma única
página contendo tópicos (capítulos de uma dissertação, por exemplo) e uma ou
duas frases sobre cada tópico. Com esta versão, podemos verificar a estrutura e
encadeamento de idéias e, se você tiver que reescrever, será apenas uma página.
Quando fecharmos esta versão, partimos para o segundo refinamento onde você
expande cada item em uma página. O importante neste processo não são as frases
exatas empregadas, mas as idéias passadas na estrutura. Nesta segunda versão, o
documento inteiro poderá consistir de 6 a 10 páginas apenas. Mais uma
vez, se tiver que reescrever algo, será relativamente pequeno e localizado.
Você está proibido de escrever mais até que eu examine cada
refinamento. Falando de uma dissertação como exemplo, o terceiro refinamento
seria de expandir um capítulo de cada vez. Quando fecharmos o terceiro
refinamento do capítulo 2, você poderá escrevê-lo e me entregar. Depois poderá
passar para o terceiro refinamento do capítulo 3 e assim por diante. O primeiro
capítulo da dissertação (a introdução) é escrito por último. Veja uma seqüência
de versões de um paper que foi escrito de forma top-down:
· ...
· Encadeamento lógico. Em qualquer um dos refinamentos, sempre pense
no leitor. Coloque-se no lugar deste e tente apresentar a informação como
decorrência natural do que você explicou antes. Isso vai obrigá-lo a apresentar
as idéias de acordo com um encadeamento lógico. A cada passo, se pergunte:
"O entendimento do que apresento agora depende de alguma informação que
não apresentei? Caso positivo, stop!". Depois que você usa
essa técnica um pouco ela vem por si só, sem esforço. Aí, escrever se torna um
prazer e o leitor vai agradecer...
· Não surpreenda o leitor. Um trabalho científico não é um romance
onde surpreender o leitor faz parte da arte do romancista. Se o leitor
adivinhar onde você quer chegar antes de você chegar lá, você está escrevendo
bem, de forma clara. Este item está relacionado com o anterior de forma íntima.
· Explique o porquê. Não se limite a dizer o que você
fez. O trabalho tem muito mais valor quando se fala por quê. É
sabendo o porquê das coisas que permite aplicar seu trabalho em outras
situações; em outras palavras, seu trabalho fica mais genérico, um
atributo essencial de uma boa dissertação.
· Brainstorm e posterior organização. Ao montar os vários refinamentos do trabalho,
uma técnica poderá ajudar. Primeiro faço um brainstorm das
idéias, colocando no papel, em qualquer ordem, todas as idéias que
fazem parte do refinamento no qual esteja trabalhando. Anote palavras ou frases
curtas apenas. Isso é um exercício que dura uns 15 ou 20 minutos apenas. Tudo
que lhe vem à mente deve ser colocado no papel. Normalmente, bastará uma folha.
Depois, você examina sua lista desordenada de idéias e usa o encadeamento
lógico e a relação natural entre os itens para organizar.
Como última observação, assim que eu comprovar
que você escreve bem, aceitarei encurtar os passos acima se você quiser. Só
exijo proceder assim a primeira vez que eu avaliar um trabalho escrito seu.
Depois disso, poderemos continuar assim ou não de acordo com suas preferências.
Como organizar um paper, sua dissertação, uma
apresentação, etc.
Documentos científicos como papers, sua
dissertação, etc. ou apresentações sobre esses temas são tipicamente escritos
com um esqueleto comum. Ei-lo:
- Definição do problema. Qual é o problema existente que queremos resolver?
- O problema é importante? O que ganharemos ao resolver o problema? O que estamos
perdendo por não termos esse problema resolvido? Por que é importante
resolver o problema?
- Quais são os desafios? Por que o problema não é simples de resolver?
- Critérios de sucesso. Uma solução (qualquer) a esse problema poderá ser
considerada bem sucedida se tiver quais características? É à luz desses
critérios que o sucesso de sua solução será avaliado.
- Metodologia. Como você vai
proceder (ou procedeu) para bolar uma solução ao problema?
- Discussão de sua solução. Aqui, você explica sua solução. No caso de uma proposta,
você pode colocar resultados parciais aqui, se houver.
- Validação. O sucesso foi
atingido, de acordo com critérios estabelecidos anteriormente? Totalmente?
Parcialmente? Que resultados você tem para apoiar suas afirmações?
Explique onde voc6e não foi totalmente bem sucedido e por quê. Caracterize
os limites de sua solução.
- Conclusões. O que aprendemos
de novo, genericamente? Lembre que uma conclusão não se limita a dar um
resumo do que você fez., Você tem que responder à pergunta: "E daí? O
que é diferente depois do meu trabalho? O que o leitor deve ter aprendido
de novo? Como isso deve mudar a vida dele?"
Talvez este documento tenha um tom um pouco
sério e assustador demais. Não tenho a intenção de dificultar nosso
relacionamento. Tenho o propósito de ajudá-lo da melhor forma possível a
concluir um trabalho de qualidade em curto espaço de tempo. Garanto que estarei
me empenhando neste sentido e que caminharemos essa busca de conhecimentos lado
a lado e forma harmoniosa.
Ao trabalho, moçada!
Jacques
PS. Vocês podem pegar boas dicas sobre como
escrever em